quarta-feira, 6 de abril de 2011

Sufocadas pela beleza


Quando a Arte em sua forma extrema sufoca a alma e o corpo?
Tudo em demasia perde seu principal fundamento, com a arte não é diferente. Queria tomar como belo e cruel exemplo as gueixas, criaturas tão leves e delicadas, mas contidas demais para o mundo real, como atores eternamente presos em seus papéis estudados e nos efeitos técnicos de seu teatro.
Sua voz é feita para encantar, seus cabelos são alinhados com perfeição mesmo entre as mais extravagantes curvas, sua pele é cor da morte, cor de mármore, uma estátua, esta é uma gueixa. A perfeição da natureza amplificada através da perfeição do homem: o dom de fazer arte. Gueixa significa artista, muito embora nada crie, sendo um eco de sua cultura e passado, a gueixa é então a própria obra.
Tudo isso pode parecer muito belo, mas já parou para pensar sobre a mulher por trás de tudo isso, a mulher que pinta-se e molda-se a um formato que não lhe foi concedido pela natureza, e o pior, com vida privada que nem mesmo lhe pertence, mas exclusivamente a arte? Tal qual um objeto exposto numa galeria, que atrai a todos os olhares, guardada numa proteção de vidro, eternamente protegida, intocada e sozinha. Seu coração, sua alma e seu corpo não lhe pertencem, só os platonismos devem alimentar seus sonhos, nem mesmos seus pés devem correr. Por mais que saibamos suas características, essa entrega total mergulham-na em mistério e elegância, diante do qual nem o monte Fuji consegue se igualar. São sufocadas sim, mas felizes na sua dor e elegância, em cada sorriso, em cada canção, em cada dança...

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