sexta-feira, 20 de maio de 2011

Sincretismo de idéias: genialidade e o impacto.


A primeira figura a ser chamada ou considerada um gênio foi Imhotep, o construtor da primeira pirâmide, a pirâmide em degraus de Djozer. Fazendo um grande feito, construindo a primeira construção em pedra conhecida da história da humanidade, e uma extrema inovação em comparação as demais construções de seu tempo. Então desde o começo gênio tornou-se sinônimo de superar, ir além.
Na pintura e escultura essa genialidade custou a chegar, o artista não tinha autonomia sobre o seu próprio trabalho, em outras palavras o seu trabalho devia ser uma decisão da própria sociedade e cultura, coisa q eventualmente repetiu-se sucessivas vezes na história da humanidade. Os gregos desenvolveram uma certa autonomia na arte, e surgiriam as celebridades, Alexandros de Antióquia, Leocares, Praxiteles; assim como nas correntes de pensamento com Tales, Sócrates, Platão e mais futuramente com os primeiros cientistas experimentalistas como Hipátia, Erastótenes. Todos eles tinham suas filosofias, e dentro delas descobriam ou recriavam o mundo. Celebridade culta era gênio e vice-versa.
Chega a Idade Média, a fome, o analfabetismo, a ignorância. Na extrema pobreza estátuas gregas em mármore são destruídas para construção de casas, fazer cau. Esculturas de bronze derretem-se tornando ferramentas para o campo. Assim algumas civilizações cultas desaparecem sem vestígio por séculos, e junto a elas a denominação de gênio.
Na Idade Média querer se destacar entre a multidão se vc não fosse do clero ou um nobre era algo perigoso. A arte não tinha mais autonomia, e era algo q mulheres nobres casadas faziam para passar o tempo, pintavam a Madona e o menino, santos... mas tb existiam os artesãos, os escritores q escreviam o q pensavam, e da disputa contra o poder, a verdade sufocada, ou só msm o querer ser acima da média, o passado em q existiam gênios começou a renascer.
Em pouco tempo a inovação era um princípio incrível geralmente q denotava quem era um gênio ou não. Mas o querer a agradar sua sociedade e obedecer aos seus mecenas, como no Egito antigo era uma característica q ainda sufocava, e muitos artistas como Leonardo, Michelangelo de certa forma zombavam dessa ''regra'', quebraram tudo q fosse possível quebrar no seu período e cada um reconstruiu a arte a sua maneira; a idéia era tão forte, q msm nada do trabalho científico e teórico de Leonardo sendo conhecido na época, e poucas obras (seis pra ser preciso) sendo de conhecimento público já era assim considerado um gênio por excelência. A imagem de gênio como o filósofo da sua realidade e do seu trabalho, q aprende e q questiona o q aprendeu e q reinventa começa a ser divulgada. No Le Vité, obra do primeiro historiador de arte Giorgio Vasari, tb pintor, essa idéia de renovação em cada época é como o rodapé de cada página.
A história dá uma manobra e começa o barroco, uma campanha inicialmente de contra-reforma religiosa, trágico, questiona o correto e o errado, numa angústia sublime como em El Greco. Cada artista deve ter descoberto o seu correto e o seu errado, mas os gostos das futuras cortes, q gostavam somente da beleza alimentaram o rococó, o belo, delicado, a pele rosa e espartilhos. Aquele q consegui-se ser sensível em meio a tanta superficialidade realmente mereceria ser chamado de gênio, muito embora essa expressão fosse dada aos maiores mercenários da época.
Vieram as revoluções, pessoas não mais conformadas com a realidade q lhes impunham, Delacroix, Goya... mas o mundo se reestabilizou, com a avanço da revolução industrial e da química, com mais cores, com paisagens belas, mas estranhamente nada campestres como ''Arcadias'', a arte se reinventou mais uma vez, muito embora vez ou outra surgisse um William Blake q fugisse da alienação, como Van Gogh, Gauguin, verdadeiros fracassados em vida. Surgiriam Picasso, Georges Braque, Matisse. A Arte se livra da realidade, a cor da forma, e tudo prossegue. Salvador Dalí prende-se num efeito técnico formal para expor sua ''loucura'' com clareza, Pollock acha q a maneira de fazer a arte é mais importante do q o resultado final ''lapidado''. A pintura deixa de ser um resultado final, mas um processo, uma filosofia, nasce o conceitualismo. Se um copo cheio de água é arte, é pq foi dito assim por um artista. Depois de tanta vivência q teve o artista e seu trabalho como um ser continuado através dos séculos, ele é no mínimo um gênio de muitos corpos, identidades, origens, estilos. A genialidade democrática e sua diversidade tem lá seus conflitos, mas tb tem suas regras e uma lei constitucional: o q agradar ao criador e ele ao tomar pra si algo por arte, o será, mas tudo terá q resistir as conseqüências de tal escolha. Algumas idéias caem, não todas; estas só crescem. Amo Leonardo e Michelangelo por dar sentido ao q se desenvolvia mas ninguém sabia pq. É fácil admirar a Última Ceia, difícil é aceitar a genialidade banal de Mona Lisa q ultrapassa a nossa compreensão, assim como o Juízo Final de Michelangelo ultrapassa toda e qualquer sensação confortável q o teto da Capela Sistina possa transmitir. A arte passou do frufru a filosofia pesada, msm quando quer ser a mais suave das coisas e a mais despreocupada. Gênio é só uma metáfora de fazer algo maravilhoso ou ''mágico'', não diferente de um gênio da lâmpada como em Aladin.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Sufocadas pela beleza


Quando a Arte em sua forma extrema sufoca a alma e o corpo?
Tudo em demasia perde seu principal fundamento, com a arte não é diferente. Queria tomar como belo e cruel exemplo as gueixas, criaturas tão leves e delicadas, mas contidas demais para o mundo real, como atores eternamente presos em seus papéis estudados e nos efeitos técnicos de seu teatro.
Sua voz é feita para encantar, seus cabelos são alinhados com perfeição mesmo entre as mais extravagantes curvas, sua pele é cor da morte, cor de mármore, uma estátua, esta é uma gueixa. A perfeição da natureza amplificada através da perfeição do homem: o dom de fazer arte. Gueixa significa artista, muito embora nada crie, sendo um eco de sua cultura e passado, a gueixa é então a própria obra.
Tudo isso pode parecer muito belo, mas já parou para pensar sobre a mulher por trás de tudo isso, a mulher que pinta-se e molda-se a um formato que não lhe foi concedido pela natureza, e o pior, com vida privada que nem mesmo lhe pertence, mas exclusivamente a arte? Tal qual um objeto exposto numa galeria, que atrai a todos os olhares, guardada numa proteção de vidro, eternamente protegida, intocada e sozinha. Seu coração, sua alma e seu corpo não lhe pertencem, só os platonismos devem alimentar seus sonhos, nem mesmos seus pés devem correr. Por mais que saibamos suas características, essa entrega total mergulham-na em mistério e elegância, diante do qual nem o monte Fuji consegue se igualar. São sufocadas sim, mas felizes na sua dor e elegância, em cada sorriso, em cada canção, em cada dança...

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Jacques de Molay, o Amigo


Nas traições vindas dos invejosos expulsos, aos invejosos de nossos bens, qualquer virtude do cordeiro a ser sacrificado é um mero detalhe. Como estavam enganados. São sete os anos de prisão, e nenhum ‘’ai’’ que contribui-se com a mentira elaborada é solto de seus lábios. Lhe arrancam tudo que acham que veste a dignidade baseados nas próprias conclusões mesquinhas do que é digno, sendo que a verdadeira só cresce no velho corpo maltrapilho na masmorra. Dois inimigos ferozes brigam; de um lado o amor ao dinheiro, do outro a lealdade, o amor pelos seus.
A sentença vem dos podres corpos de seus algozes, não em situação tão diferente aos olhos da morte.
É questionada por suas vítimas, pela grande mentira. A fogueira é o resultado.
Chamas, vestes brancas ou corpos nus encharcados em enxofre. Fogo, som de algo chiando em meio a milhares de gritos desesperados que sobem ao céu com a fumaça. Numa dessas colunas de gris uma sentença da mais virtuosa das almas injustiçadas. A maldição nasce, a morte ceifa. Aqueles que com poucos papéis riscados beberam do sangue dos inocentes pagam.
No fim um tribunal, além de qualquer compreensão humana. A história cria o título de herege que é levado pela primeira tempestade, e ele, o nosso herói sai em meio as águas lavado e curado de qualquer ferida; não importa a lenda que tenha sido criada em torno dele e sua história, nenhuma, nenhuma se aproxima de seu feito.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

VIRTUTEM FORMA DECORAT


Para quem puder visitar a National Gallery of Art de Washington, se deparará com uma sala ao estilo do museu, mas com uma forte evocação em sua organização a Salle des États, aposento da Gioconda no Louvre, em uma espécie de versão em miniatura.
Cercada por obras de diferentes mestres, no centro ergue-se uma parede onde apóia-se uma bela donzela. Sua palidez parece se propagar por todo o lugar. Seu olhar é de um sentimento indecifrável, entretanto sua falta de sorriso contrasta fortemente da célebre pintura parisiense. Para todo efeito esta donzela é a precursora de toda essa poética leonardiana, onde um Juniperus, símbolo da castidade e pureza é literalmente transformado em uma real alegoria humana.
Na época de casamentos formados por interesses, como era o solo das uniões conjugais do século XV, não era incomum paixões proibidas, amores nunca consumados, infelicidades sentimentais. “A beleza adorna a virtude”. É sobretudo o retrato de uma mulher infeliz, sem ânimo, que sequer encara seu espectador de verdade. Um olhar sem foco real, pensativo. Um coração ferido, esmigalhado. Obrigada a acolher seu destino, ela posa, ereta, implacável, virtuosa; sua intelectualidade sobressai seus sentimentos mais sinceros, é aquela beleza enrijecida, aí entra a árvore, Juniperus, cujo nome é referência ao seu, quase como a crueldade de um destino já traçado desde seu berço. Uma árvore frágil, mas que veste-se de uma folhagem pontiaguda, falsos espinhos. Um retrato encomendado por seu verdadeiro amor, um desabafo sincero enviado num olhar. Por que me condenas a este suplício? Oh, vós que caminhas por onde caminhei, que observa minha vida como de uma janela. Diga uma só palavra e meu tormento termina. Diga que não me ama, me liberte desta prisão que se tornou meu coração para minha alma.
Uma Janela. Uma jovem de duas faces. Uma pintura de duas faces.
Se isso não é um verdadeiro epitáfio de um amor, não sei do que mais seria.
Retrato de Ginevra de Benci, genebra, ginepro, juniperus... o efeito de ocultar o íntimo, e fazer da beleza uma virtude, quando a verdadeira é inalcançável.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Cuspindo um pouco de veneno


Na imagem podemos contemplar um pequeno detalhe da parte interna do Retábulo de Issenheim, obra mestra de Matthias Grünewald, representando em meio a uma orquestra de anjos, muito provavelmente Lúcifer.
Lúcifer personagem que caiu em desgraça por sua ambição e egoísmo. Tantas vezes somos verdadeiros lucíferes e não percebemos. Quando abraçamos ao individualismo e conquistamos nossos desejos, quando não perdoamos e sim repreendemos, quando só enxergamos o nosso lado em uma determinada situação e formamos o que se chama opinião. Creio que todo mundo já teve sua fase satanista sem sequer se dar conta, ou mais provavelmente está e nunca sairá dela. Não estou citando uma visão religiosa das coisas, longe disso, todavia filosófica. Lúcifer é uma filosofia. As diferenças que nós humanos temos da perfeição, que apesar da desgraça possui sua beleza, sua linguagem, sua música; prazeres que divindade nenhuma poderia compreender, degustar. É algo do prazer de ser humano, de sentir anseios, felicidades, fome e sede; de diverti-se mesmo em meio a guerras, e mesmo morrendo de cede, brincar naquela última poça de lama. Viver sabendo que amanhã tudo poderá ser diferente, mas que cada dia é uma nova batalha, por isso muito provavelmente seu rosto atento, não é a expressão daquele que trama, mas que observa, que anseia.
Quantas vezes carregamos o título de herege, quantas vezes nos sentimos sozinhos na nossa própria certeza, aquelas idéias que os outros não conseguem aspirar, entender, ou simplesmente não querem enxergar.
É aquele toque de incompreensão, de sabermos o quanto somos diferentes. Será sua beleza só devaneio de uma alma imperfeita, ou será essa beleza o toque da razão? Por que ele foi punido? Por que a razão é tão punida por nós mortais? Será que algum deus jogou essa filosofia no inferno porque intimamente sabia de sua veracidade e quis nos mergulhar na selvageria? Não sei! O que sei é que abraçando nossos demônios e sofrimentos e aprendendo a conviver com eles é que realmente aprendemos a ser divino, e que divino é ser, além de tudo, HUMANO.

Um Prólogo


Antes de tudo, uma introdução. Não é uma síntese do que adiante escreverei, mas o porquê escrevi.
Era meados do ano 2000, época esperançosa pelo início do terceiro milênio, após uma exaustiva fase de superstições e divulgação apocalíptica; em uma revista comum me deparo com uma pequena imagem mágica. Me senti desafiado. Como semelhante coisa poderia ter se originado de mãos humanas? O que significava? Poderia eu estar ainda na casa dos oito anos, mas logo percebi que tudo aquilo estava envolto em algo de mistério. Veio-me então um segundo sentimento, fascinação. Recortei com cuidado com minha tesoura verde sem ponta, que me acompanhou por um bom tempo (boa tesoura!, permita-me confessar), e guardei dentro de um almanaque de Maurício de Sousa, posteriormente. A imagem foi depois colocada em uma pequena moldura, já desgasta pelo tempo, mas isso não vem ao caso.
Estamos agora em meados de 2006, te apresento o tártaro. Uma alma para ser aprisionada no tártaro, não precisava necessariamente merecer; bastava comer de algum fruto seu. Eu provei, o nome desse fruto é amor... Não que o tipo de amor que eu tenha sentido fosse algo de profano, mas me refiro ao amor em geral; pode parecer um demasiado exagero da minha parte, mas seguindo a linha lógica de uma pessoa que conviveu com estórias de tártaros e campos Elíseos, o amor é um grande demônio! Não nos refiramos as explicações kadercistas e modernas a essa citação, e sim ao contexto que adquiriu. Este amor não foi partilhado, foi uma ponte de um lado só; meus sentimentos que brotassem do coração, nunca concluiriam sua travessia, era um caminho sem rumo, sem fim. Imagine uma jovem alma cheia de sentimentos aprisionados, as mudanças que essas exercem sobre sua personalidade, seu comportamento. Eu já não era o mesmo, todavia me amava. É normal. Não para os outros. Iniciou-se uma caça as bruxas; a propósito, já havia se iniciado a muito tempo, entretanto só agora oficialmente.
Já experimentou um pouco de rejeição, doses de humilhação e ter sua dignidade humana arranhada, destruída? Se sim, lamento e mesmo assim o felicito. Quando somos encaixados em uma minoria, aprendemos a olhar para os lados, para o próximo, para os que também sofrem. É uma dessas fases de efeito permanente em sua vida, que depois o orgulhará pela resistência, todavia quando ainda estamos dentro dela é muito difícil enxergarmos isso. Tentamos polir nossa dignidade, mesmo que seja com o próprio sangue, ou a serenidade enganadora da morte.
A morte me sorriu algumas vezes, mas algo não permitiu que me aspirasse o sopro da vida. É normal de nos apegarmos a tantas pequenas coisas que julgamos grandes, e talvez sejam mesmo, e são esses detalhes que nos mantém respirando. O sorriso vivo superava o da morte. Fui salvo por aquela figura misteriosa que conheci através daquela pequena imagem. Confesso que desde cedo tive uma vocação a área artística, mas aquele foi o meu verdadeiro chamado; não hesitei, e me entreguei incondicionalmente àquele sorriso maroto que nem mesmo a morte foi capaz de superar.