segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Cuspindo um pouco de veneno


Na imagem podemos contemplar um pequeno detalhe da parte interna do Retábulo de Issenheim, obra mestra de Matthias Grünewald, representando em meio a uma orquestra de anjos, muito provavelmente Lúcifer.
Lúcifer personagem que caiu em desgraça por sua ambição e egoísmo. Tantas vezes somos verdadeiros lucíferes e não percebemos. Quando abraçamos ao individualismo e conquistamos nossos desejos, quando não perdoamos e sim repreendemos, quando só enxergamos o nosso lado em uma determinada situação e formamos o que se chama opinião. Creio que todo mundo já teve sua fase satanista sem sequer se dar conta, ou mais provavelmente está e nunca sairá dela. Não estou citando uma visão religiosa das coisas, longe disso, todavia filosófica. Lúcifer é uma filosofia. As diferenças que nós humanos temos da perfeição, que apesar da desgraça possui sua beleza, sua linguagem, sua música; prazeres que divindade nenhuma poderia compreender, degustar. É algo do prazer de ser humano, de sentir anseios, felicidades, fome e sede; de diverti-se mesmo em meio a guerras, e mesmo morrendo de cede, brincar naquela última poça de lama. Viver sabendo que amanhã tudo poderá ser diferente, mas que cada dia é uma nova batalha, por isso muito provavelmente seu rosto atento, não é a expressão daquele que trama, mas que observa, que anseia.
Quantas vezes carregamos o título de herege, quantas vezes nos sentimos sozinhos na nossa própria certeza, aquelas idéias que os outros não conseguem aspirar, entender, ou simplesmente não querem enxergar.
É aquele toque de incompreensão, de sabermos o quanto somos diferentes. Será sua beleza só devaneio de uma alma imperfeita, ou será essa beleza o toque da razão? Por que ele foi punido? Por que a razão é tão punida por nós mortais? Será que algum deus jogou essa filosofia no inferno porque intimamente sabia de sua veracidade e quis nos mergulhar na selvageria? Não sei! O que sei é que abraçando nossos demônios e sofrimentos e aprendendo a conviver com eles é que realmente aprendemos a ser divino, e que divino é ser, além de tudo, HUMANO.

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