segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Um Prólogo


Antes de tudo, uma introdução. Não é uma síntese do que adiante escreverei, mas o porquê escrevi.
Era meados do ano 2000, época esperançosa pelo início do terceiro milênio, após uma exaustiva fase de superstições e divulgação apocalíptica; em uma revista comum me deparo com uma pequena imagem mágica. Me senti desafiado. Como semelhante coisa poderia ter se originado de mãos humanas? O que significava? Poderia eu estar ainda na casa dos oito anos, mas logo percebi que tudo aquilo estava envolto em algo de mistério. Veio-me então um segundo sentimento, fascinação. Recortei com cuidado com minha tesoura verde sem ponta, que me acompanhou por um bom tempo (boa tesoura!, permita-me confessar), e guardei dentro de um almanaque de Maurício de Sousa, posteriormente. A imagem foi depois colocada em uma pequena moldura, já desgasta pelo tempo, mas isso não vem ao caso.
Estamos agora em meados de 2006, te apresento o tártaro. Uma alma para ser aprisionada no tártaro, não precisava necessariamente merecer; bastava comer de algum fruto seu. Eu provei, o nome desse fruto é amor... Não que o tipo de amor que eu tenha sentido fosse algo de profano, mas me refiro ao amor em geral; pode parecer um demasiado exagero da minha parte, mas seguindo a linha lógica de uma pessoa que conviveu com estórias de tártaros e campos Elíseos, o amor é um grande demônio! Não nos refiramos as explicações kadercistas e modernas a essa citação, e sim ao contexto que adquiriu. Este amor não foi partilhado, foi uma ponte de um lado só; meus sentimentos que brotassem do coração, nunca concluiriam sua travessia, era um caminho sem rumo, sem fim. Imagine uma jovem alma cheia de sentimentos aprisionados, as mudanças que essas exercem sobre sua personalidade, seu comportamento. Eu já não era o mesmo, todavia me amava. É normal. Não para os outros. Iniciou-se uma caça as bruxas; a propósito, já havia se iniciado a muito tempo, entretanto só agora oficialmente.
Já experimentou um pouco de rejeição, doses de humilhação e ter sua dignidade humana arranhada, destruída? Se sim, lamento e mesmo assim o felicito. Quando somos encaixados em uma minoria, aprendemos a olhar para os lados, para o próximo, para os que também sofrem. É uma dessas fases de efeito permanente em sua vida, que depois o orgulhará pela resistência, todavia quando ainda estamos dentro dela é muito difícil enxergarmos isso. Tentamos polir nossa dignidade, mesmo que seja com o próprio sangue, ou a serenidade enganadora da morte.
A morte me sorriu algumas vezes, mas algo não permitiu que me aspirasse o sopro da vida. É normal de nos apegarmos a tantas pequenas coisas que julgamos grandes, e talvez sejam mesmo, e são esses detalhes que nos mantém respirando. O sorriso vivo superava o da morte. Fui salvo por aquela figura misteriosa que conheci através daquela pequena imagem. Confesso que desde cedo tive uma vocação a área artística, mas aquele foi o meu verdadeiro chamado; não hesitei, e me entreguei incondicionalmente àquele sorriso maroto que nem mesmo a morte foi capaz de superar.

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